terça-feira, 13 de março de 2012

" PARABÉNS ARACAJU PELOS SEUS 157 ANOS DE HISTÓRIA "
Logo após o descobrimento do Brasil em 1500, algumas áreas da nova colônia de Portugal encontravam-se em estado de guerra devido ás divergências culurais entre índios, negros escravos e os invasores de outros países da Europa. Um desses territórios de conflito situava-se no nordeste brasileiro entre os rios Real e São Francisco. A necessidade de conquista-lo e acabar com as brigas entre índios, franceses e negros, que não aceitavam o domínio português, era de extrema urgência para o trono, pois manter a ordem era uma questão de segurança, além de se tratar de um ponto estratégico, pois o território estava localizado exatamente no meio de dois grandes pólos, as capitanias de Pernambuco e Bahia. Um dos últimos do Brasil a se encontrar neste estágio, o território de Sergipe Del Rei foi uma espécie de zona franca muambeira onde os piratas franceses, que entravam pelas barras dos rios Sergipe, Real e Vaza-Barris (também conhecido como Ipiranga) faziam a festa com o comércio clandestino entre índios da região. O local onde se encontra o município de Aracaju era a residência oficial do temível e cruel cacique Serigy, que segundo Clodomir Silva no "Álbum de Sergipe", de 1922, dominava das margens do rio Sergipe às margens do rio Vaza-Barris. O aviso dos navegantes. Os navegantes costeiros daquela época subiam a costa brasileira fazendo anotações nos diários de navegação, mesmo quando costeavam o litoral norte da Bahia, conhecida por não possuir bons ancoradouros. Passada a barra do rio Real e até depois da barra do rio São Francisco, uma estranha amnésia coletiva impediu que eles fizessem anotações. Entre as duas barras estendiam-se cerca de 170 km de costa - uma costa cega, no jargão marítimo, pois não havia sombra de nenhum vilarejo. Atrás da costa se alongavam as "ferozes terras sergipanas". A beleza da costa impressionava tanto que, diz o lenda, os navegadores apenas escreviam frases como "não há depois do céu mais formosura". Isto talvez explique a misteriosa falta de anotações marítimas. Lendas à parte, o litoral sergipano realmente se destaca dos demais no nordeste brasileiro, por possuir características peculiares, como ausência de recifes e pedras, estuários e a foz de vários rios que desembocam no mar transformando o encontro das águas num espetáculo ímpar. Território difícil.
A primeira tentativa de dominar a região foi em 1575. Durante o governo de Luiz de Brito de Almeida, padres jesuítas da Cia, de Jesus iam tentando catequizar e pacificar os índios. O intrépido padre Gaspar Lourenço fundou várias missões em Sergipe sem, contudo, ir além das margens do Vaza Barris. No início os índios aceitaram a catequese, mas depois resistiram, malogrando, desta forma, a primeira tentativa da conquista de Sergipe. Em 1588, autorizado pelo rei de Portugal, Francisco Giraldes, nomeado Governador Geral do Brasil, determinou uma guerra pra resolver o problema no território de Sergipe, mas morreu antes mesmo de chegar ao Brasil, sem assumir o governo nem iniciar a guerra. Enquanto isso... em Sergipe Del Rei as desavenças continuam... Os franceses se divertem... e Serigy reina absoluto nas belas terras. Cristóvão de Barros é designado como sucessor e em 1589 promove a guerra tão sonhada pelo trono português, expulsando os franceses, aprisionando os negros da Guiné que fugiram da 8ahia e acabando com o reinado de Serigy. A sangrenta guerra promovida por Cristóvão de Barros foi um divisor de águas entre a pré-história de Sergipe e sua verdadeira história, onde não faltam demonstrações de força, coragem e dignidade de um povo heróico, brado e retumbante.
Poucos anos depois da guerra, quando as coisas já haviam se acalmado nas terras sergipanas, Cristóvão de Barros funda a cidade de São Cristóvão. Alguns historiadores acreditam que o nome é em homenagem a um amigo homônimo, Cristóvão de Almeida, um oleiro que viveu 128 anos, mas há uma possibilidade bastante evidente de marketing pessoal. Após a guerra, algumas edificações foram erguidas, além do pequeno forte e do paiol que já existiam. Em 1596 a terra começa a ser distribuída através das Cartas de Sesmaria e a Quarta cidade fundada no Brasil começa aos poucos a prosperar. As principais atividades econômicas giravam em torna da extração do pau-brasil, cultivo da cana-de-açúcar e criação de bovinos. Outros povoados vão se erguendo ao longo do fértil Vale do Cotinguiba. O crescimento do Vale e a prosperidade em outros extremos do território sergipano evoluíram e quase três séculos depois a região chegará a um impasse - como escoar toda a produção ? Aracaju - uma cidade que já nasceu capital. A província de Sergipe crescia em produtividade mas não conseguia dar vazão a toda produção. A criação de um porto no Vale do Cotinguiba (atualmente Rio Sergipe), seria a opção mais racional. Em 1832 começam os pensamentos de mudança. Sebastião Gaspar de Almeida Boto propôs ao conselho a transferência da capital para Laranjeiras. Em 1835 Inácio Barbosa, presidente da província, retoma o assunto, mas com outra preferência.
O porto de São Cristóvão escoava duas mil sacas de açúcar enquanto pela Barra do rio Sergipe saiam 25 mil sacas oriundas da região do Vale. Era uma questão bastante delicada a construção do novo porto, pois a transferência da capital seria inevitável e muitas figuras ilustres de São Cristóvão não tinham o menor interesse em ver as terras desvalorizadas. Estamos na primeira metade do século XIX. Outros motivos para a mudança. São Cristóvão já apresentava traços de decadência. Muitas ruas sem calçamento, estreitas e tortuosas. Havia poucos prédios públicos, o comércio era modesto e as transações comerciais inexistentes. Não havia nenhuma casa estrangeira de arte e intercâmbio cultural, ou indústria. Mas o principal motivo era a questão hidrográfica, por situar-se no fundo do Rio Paramopama com dependência de marés e dificuldades para navegação, com marés baixas que não permitiam nem o fluxo de canoas, muito menos a construção de um porto. São Cristóvão, apesar do romantismo colonial com belos casarios e sobrados, calçadas de pedras portuguesas e mosaicos de azulejos nas fachadas, era o lugar menos próprio para ser capital de uma província que crescia e se moldava aos tempos modernos. A escolha de novo local - Uma cidade Mangue beat. No povoado de Santo Antônio do Aracaju já existia uma escola e uma capela - o templo religioso mais antigo de Aracaju.
Inácio simpatizava com esta opção, mas apresentou duas alternativas aos deputados. Na primeira, a capital sergipana passaria a ser na Barra dos coqueiros, na época pertencente ao município de Santo Amaro das Brotas. Situada na margem esquerda do rio Sergipe, possuía boa localização mas existia um clima ardente e poucas nascentes de água potável. A segunda opção era o povoado de Santo Antônio na margem direita do mesmo rio, com fartura de água e tendo ao fundo o fértil município de N. Sra. do Socorro. Inácio era um homem inteligente e através de relatórios, ingenuamente tendenciosos, conseguiu a simpatia de alguns parlamentares. O presidente convocou uma sessão extraordinária que pegou os deputados de surpresa. No dia 02 de março de 1855, a Assembléia Legislativa da Província foi convocada para uma sessão em uma das poucas casas que existiam na praia do Aracaju. O projeto era a elevação do povoado Santo Antônio à categoria de cidade e, automaticamente, capital. A perplexidade dos deputados foi tão grande que muitos votaram a favor e só perceberam exatamente do que se tratava quando no término da sessão se depararam com a paisagem exuberante das praias do Aracaju, os areais, brejos e manguezais e não conseguiam compreender como um lugar pantanoso e desabitado se tornaria a capital da província. A estratégia ardilosa de Inácio já havia sido alinhavada no ano anterior quando transferiu para o povoado de Santo Antônio do Aracaju a alfândega, a Mesa de Rendas Provinciais e mandou construir uma agência do correio e uma sub delegacia de policia. Após todas essas manobras políticas nada mais poderia impedir a marcha do projeto, e em 17 de março de 1855 a Lei é sancionada. Foi um alvoroço, uma verdadeira subversão política, econômica e social. Aracaju já nasceu capital. Esta ousadia é uma das marcas da cidade que perdura até os dias atuais. Um tabuleiro de xadrez. O plano urbanístico de Aracaju desafiou a capacidade da engenharia da época. A cidade foi implantada numa área de pântanos e charcos. O desenho urbano foi elaborado por uma comissão de engenheiros, tendo como responsável Sebastião 8asilio Pirro. Pirro elaborou um plano de alinhamento. Dentro de um quadrado de 540 braças, ou seja, 1.188 metros, estavam traçados quarteirões iguais, de forma quadrada, com 55 braças de largura, separados por ruas de 60 palmos. Era a simplicidade e o rigor geométrico. Esta primeira concepção só feria seus limites extrapolados após cinqüenta anos, quando a população menos abastada começou a pular o "quadrado de Pirro". Alguns estudos a respeito de Aracaju propagaram a idéia de que o plano da cidade havia sido concebido a partir da implantação dos modelos de vanguarda na época - Washington, Chicago, 8uenos Aires. O centro do poder político - administrativo, (atual praça Fausto Cardoso) foi o ponto de partida para o crescimento da cidade. Todas as ruas foram arrumadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para desembocarem no rio Sergipe. Até então, as cidades existentes antes do século XVII, adaptavam-se às condições topográficas naturais, estabelecendo uma irregularidade no panorama urbano. O engenheiro Pirro contrapôs-se a essa irregularidade e Aracaju foi no Brasil, o primeiro exemplo dessa tendência geométrica. Nem tudo são flores. Como era de se esperar, a Câmara de São Cristóvão protestou e fez muito barulho. Reclamou ao presidente da província, ao Governador Geral do Brasil, ao trono de Portugal, só faltou o Papa, mas nada adiantou. Após muitas lutas e discussões a mudança foi aceita. O primeiro ano.
O que estava por vir abalaria os alicerces da cidade em construção. No ano de 1856 dois duros golpes afetaram o andamento das coisas: a morte de Inácio, o idealizador, e a epidemia de cólera que assolava o Brasil. A sorte da jovem capital estava lançada. Se outras cidades que já contavam com o funcionamento de todos os órgãos, inclusive hospitais públicos, sofreram, imaginem a tragédia na praia do Aracaju, pois para começar, faltava a cidade. O mais inexplicável é o fato de uma série de acontecimentos negativos não terem provocado uma reação em cadeia nos moradores, o que seria facilmente alimentada pelos inimigos da nova capital, já sem seu principal defensor. Paradoxalmente, a morte de Inácio Barbosa e a epidemia de cólera salvaram a cidade. Não se podia duvidar da força e da resistência de um organismo que, recém-nascido, conseguiria sobreviver a tão duras provações. Era a prova de que Aracaju seria uma cidade de gente que não se deixa abater e que está sempre disposta a recomeçar, a ressurgir das cinzas, como Fênix.
A carência de materiais e a falta de operários qualificados na construção civil foi outro problema grave. As conseqüências disto poderiam ser hilárias se não fossem perigosas - o telhado da Mesa de Rendas ruiu, as paredes do quartel desaprumaram e as bicas do Palácio do Governo despejavam água para dentro do edifício, sem citar os prejuízos maiores e os sustos de alguns moradores. Mas nada poderia impedir o desejo daquelas pessoas. As primeiras décadas. Somente em 1865 a cidade se firmou. Era o término de uma década de lutas contra o meio físico e contra as pessoas que não eram a favor do grande sonho. A partir desta data ocorre um novo ciclo de desenvolvimento, que dura até os primeiros e agitados anos após a proclamação da república. Em 1884 surge a primeira fábrica de tecidos, marcando o inicio do desenvolvimento industrial. A resolução 568 de 4 de janeiro de 1864 expandiu os limites do município. Em junho de 1886, Aracaju já possuía uma população de 1.484 habitantes, já havia a imprensa oficial além de algumas linhas de barco para o interior. Um único médico, também professor, Pedro Autran da Mata, atuava legalmente na capital. Nos anos seguintes outros profissionais liberais vieram, oriundos principalmente das faculdades da Bahia, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1900 inicia-se a pavimentação com pedras regulares e são executadas obras de embelezamento e saneamento. Os bondes de burro chegam em 1908 e em 1926 são substituídos pelos bondes elétricos. É a modernidade chegando e Aracaju tinha que aderir aos novos inventos. As principais capitais do país sofriam reformas para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Aracaju, que já nasceu vanguarda, acompanhava e em 1908 é inaugurado o serviço de água encanada, um luxo para a época. Em 1914 é a vez dos esgotos sanitários e no mesmo ano chega a estrada de ferro. A comunicação entre o povoado que deu nome à cidade e a cidade em si, foi dada através da construção da Estrada Nova. Em 1922 a estrada é denominada Avenida Independência e em 1933 rebatizada com o nome de Avenida João Ribeiro. Bairros periféricos como o Siqueira Campos surgiam para abrigar as pessoas vindas do interior, era o êxodo rural provocado pela grande seca ou pelas perseguições de Lampião aos rivais políticos. Esta fuga foi o primeiro fenômeno geográfico de diferenciação social em Aracaju. As terras de maior valor comercial faziam fronteira com o rio Sergipe - era a rua da frente, atualmente Av., lvo do Prado, mas a rua ltabaiana vai se tornando aos poucos o logradouro preferido da classe dominante. A chegada da Petrobrás. Aracaju entraria em um novo ciclo de desenvolvimento a partir de 1963. A recentemente criada Petrobrás chegava á cidade após a descoberta de petróleo no subsolo e plataforma marítima. O modo de vida da cidade começaria aos poucos a mudar. A renda per capita de população crescia rapidamente e o padrão de vida também, fazendo surgir uma legião de consumidores exigentes, obrigando os prestadores de serviços a acompanhar esta evolução. A descoberta de um novo destino.
Aracaju já se encontrava estabilizada nos anos 70. Cidade de porte médio, sem problemas de segurança nem infra-estrutura, boa densidade demográfica, belas praias e um povo simpático e de bem com a vida. Alguns turistas acidentais começavam a aparecer, muitos desembarcavam na cidade por curiosidade e acabavam ficando - há vários casos de estrangeiros morando em Aracaju após uma paixão arrebatadora pela cidade. O turismo não era explorado profissionalmente e somente em 1977 é criada a EMSETUR - Empresa Sergipana de Turismo. Até o início dos anos 80 pouca coisa havia sido feita em prol do desenvolvimento do turismo sergipano, mas uma grande guinada estava para acontecer. O governo despertou para a grande indústria e as obras de infra-estrutura turística começaram a ser realizadas. Aracaju recebeu hotéis de nível e teve sua Orla na praia de Atalaia construída, hoje, o mais importante cartão-postal da cidade; rodovias foram implantadas para facilitar o acesso ás praias dos litorais sul e norte; outros equipamentos turísticos foram instalados e um grande trabalho de catalogação das potencialidades foi leito, aliado á divulgação nos principais veículos do pais. Após todo este trabalho, Aracaju vai se consolidando como destino turístico - cidade caprichosa, vaidosa e acima de tudo, ousada. Curiosidades.
O primeiro carnaval em Aracaju foi realizado em 1894. Pequenos grupos de foliões saíram ás ruas fantasiados, cantando ao som de instrumentos de percussão. Ninguém, naquela época, poderia imaginar que o carnaval brasileiro, cento e quatro anos depois passaria a ser oficialmente aberto em Aracaju. O PRÉ-CAJU se consolida como a maior prévia carnavalesca do Brasil e integra o calendário internacional de eventos da Embratur. Coisas de Aracaju!
A manifestação religiosa que agrega multidões há muitos anos é a procissão fluvial do Bom Jesus dos Navegantes, sempre realizada no dia 1° de janeiro no estuário do rio Sergipe. A primeira procissão data do ano de 1857. A tão falada praia do Aracaju, segundo referências dos jornais de 1855, designava a atual praia do Bairro Industrial, local onde ocorreu a sessão extraordinária da Assembléia que aprovou a mudança. Aracaju vem da língua Tupi e significa "cajueiro dos papagaios". Outras versões existem, sendo esta a mais aceita.